Soneto Se alguém batesse à minha porta um dia E me chamasse à vida que há na rua, Eu — que não quero ouvir — nada ouviria Que apenas ouço aquela voz que é tua. Se alguém de noite abrisse a gelosia Para que eu pudesse olhar a luz da lua, Eu — que não posso ver — nada veria Que a condição de cega continua. Nem punhal feito em aço de Toledo Me atinge o coração porque ele somente No aço dos teus olhos se desfaz. Pois contra mim lançou este bruxedo O Amor: de meus sentidos nenhum sente Senão o sentimento que lhes dás. HÉLIA CORREIA Hélia Correia é uma escritora e tradutora portuguesa, tendo sido laureada ao longo da sua carreira literária. Foi galardoada com o Prémio Camões 2015. Hélia Correia nasceu em Lisboa em fevereiro de 1949, e cresceu em Mafra, terra da família materna, na qual frequentou o ensino primário e liceal. Finalizou os estudos liceais em Lisboa, cidade onde também viria a frequenta...