Soneto
Se alguém batesse à
minha porta um dia
E me chamasse à vida
que há na rua,
Eu — que não quero
ouvir — nada ouviria
Que apenas ouço aquela
voz que é tua.
Se alguém de noite
abrisse a gelosia
Para que eu pudesse
olhar a luz da lua,
Eu — que não posso ver
— nada veria
Que a condição de cega
continua.
Nem punhal feito em aço
de Toledo
Me atinge o coração
porque ele somente
No aço dos teus olhos
se desfaz.
Pois contra mim lançou
este bruxedo
O Amor: de meus
sentidos nenhum sente
Senão o sentimento que
lhes dás.
HÉLIA CORREIA
Hélia Correia é uma escritora e tradutora
portuguesa, tendo sido laureada ao longo da sua carreira literária. Foi galardoada
com o Prémio Camões 2015.
Hélia Correia nasceu em Lisboa em fevereiro de 1949,
e cresceu em Mafra, terra da família materna, na qual frequentou o ensino
primário e liceal. Finalizou os estudos liceais em Lisboa, cidade onde também
viria a frequentar a Faculdade de Letras. Licenciou-se em Filologia Românica,
tendo concluído, mais tarde, uma pós-graduação em Teatro da Antiguidade
Clássica. É professora de Língua Portuguesa do ensino secundário. Foi também
responsável por diversas traduções.
Começou a publicar poesia em páginas literárias de
jornais ( Diário de Lisboa, República e A Capital) , revistas (Vértice) e
antologias em 1968.
Em 1981, estreou-se na novelística com O Separar das
Águas; em 1982, foi a vez d'O Número dos Vivos. A novela Montedermo, encenada
pelo grupo O Bando, acabou por dar à autora um certo destaque. Enfoque esse que
reflete, desde muito cedo, o gosto da autora pelo teatro e pela Grécia
Clássica. Destacam-se ainda, na sua produção literária, os romances Casa Eterna
e Soma. Já em poesia, há que salientar A Pequena Morte/Esse Eterno Canto. Em
2010, Hélia Correia publicou o romance biográfico Adoecer, em que aborda a
história de amor entre Elisabeth Siddal e o poeta e pintor pré-rafaelita Dante
Gabriel Rossetti. Em 2012 publica a obra A Terceira Miséria, que foi duplamente
premiado na modalidade de Poesia. Em 2015 foi galardoada com o Prémio Camões.
Em 2017 foi distinguida pela Asociación de
Escritoras e Escritores en Língua Galega como Escritora Galega Universal.
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