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A mostrar mensagens de 2021

Poemas & Poetas - "Renuncia" de Virgínia Victorino

  RENÚNCIA   Fui nova, mas fui triste; só eu sei como passou por mim a mocidade! Cantar era o dever da minha idade… Devia ter cantado, e não cantei!   Fui bela. Fui amada. E desprezei… Não quiz beber o filtro da ansiedade. Amar era o destino, a claridade… Devia ter amado, e não amei!   Ai de mim! Nem saudades, nem desejos; nem cinzas mortas, nem calor de beijos… — Eu nada soube, nada quis prender!   E o que me resta? Uma amargura infinda: ver que é, para morrer, tão cedo ainda, e que é tão tarde já para viver!   Virgínia Victorino   Virgínia Villa-Nova de Sousa Vitorino nasceu em 13 de agosto de 1895, em Alcobaça, filha do correeiro Joaquim de Sousa Vitorino e de sua mulher, Guilhermina Vila-Nova. Cursou  Filologia Românica , na  Faculdade de Letras de Lisboa , e frequentou a  Escola de Música do Conservatório Nacional , onde estudou  piano ,  canto , harmonia e aprendeu a  língua italiana . Ainda no Conservatório, durante cerca de quatro d

Poemas & Poetas - "Soneto Antigo" de Cecília Meireles

  SONETO ANTIGO   Responder a perguntas não respondo. Perguntas impossíveis não pergunto. Só do que sei de mim aos outros conto: de mim, atravessada pelo mundo.   Toda a minha experiência, o meu estudo, sou eu mesma que, em solidão paciente, recolho do que em mim observo e escuto muda lição, que ninguém mais entende.   O que sou vale mais do que o meu canto. Apenas em linguagem vou dizendo caminhos invisíveis por onde ando.   Tudo é secreto e de remoto exemplo. Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo. E todos somos pura flor de vento.   Cecília Meireles   Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira. É um nome canônico do modernismo brasileiro, uma das grandes poetas da língua portuguesa e é amplamente considerada a melhor poeta do Brasil, embora tenha combatido a palavra poetisa por causa da discrimi

Poemas & Poetas - "Meu pensamento é um rio subterrâneo" de Fernando Pessoa

Meu pensamento é um rio subterrâneo Meu pensamento é um rio subterrâneo. Para que terras vai e donde vem? Não sei... Na noite em que o meu ser o tem Emerge dele um ruído subitâneo   De origens no Mistério extraviadas De eu compreendê-las..., misteriosas fontes Habitando a distância de ermos montes Onde os momentos são a Deus chegados...   De vez em quando luze em minha mágoa Como um farol num mar desconhecido Um movimento de correr, perdido Em mim, um pálido soluço de água...   E eu relembro de tempos mais antigos Que a minha consciência da ilusão Águas divinas percorrendo o chão De verdores uníssonos e amigos,   E a ideia de uma Pátria anterior À forma consciente do meu ser Dói me no que desejo, e vem bater Como uma onda de encontro à minha dor.   Escuto o... Ao longe, no meu vago taco Da minha alma, perdido som incerto, Como um eterno rio indescoberto, Mais que a ideia de rio certo e abstrato...   E p'ra onde é que ele

Poemas & Poetas - "A Lágrima" de Rui Rasquilho

A Lágrima   Sobre a areia A memória do fogo E a distância A dilaceração do tempo Do teu corpo Os teus lábios E as ondas   Ao longe o cais sem navios E os teus braços morenos Perdidos no meu ombro   Dançamos agora Na garganta O nó E o gelo   No teu rosto-índice Adeja o limite paralelo da cor E a lágrima   Rui Rasquilho por sua voz - À terceira hora do terceiro dia do terceiro mês, meio ano antes de terminar a guerra, em 1945, nasci. Em julho entrei pela primeira vez num mosteiro construído e vivido por cistercienses, Santa Maria de Alcobaça. Mais tarde percebi que o meu batismo se havia realizado na Sala dos Reis perante inúmeras testemunhas em barro cozido e que, tirando o Papa Alexandre III e S. Bernardo, os outros haviam sido todos reis. Vivi em Alcobaça até ao início da Escola Primária; depois, veio São Pedro do Sul, Fundão, Castelo Branco e Alcobaça, onde fiz a 4.ª classe e a admissão ao Liceu, em Leiria, no edifício do Convent

Poemas & Poetas, "Ode à Paz" de Natália Correia

Ode à Paz Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, Pelas aves que voam no olhar de uma criança, Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza, Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, Pela branda melodia do rumor dos regatos, Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos, Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria, Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, Pelos aromas maduros de suaves outonos, Pela futura manhã dos grandes transparentes, Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna, Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz. Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, Abre as portas da História,      

Poemas & Poetas, "Paz" de Filomena Fadigas

PAZ   Se a paz que procuro se encontrasse nos livros... Se a paz fosse fruto de tréguas de guerras ou de satisfação própria...   Mas não! A paz que me impulsiona nasce da luta. É na luta interior que brota a paz como nascente de água, no sofrimento e ilumina as incertezas que fluem da vida.   Se a paz verdadeira trespassasse intimamente a alma Dos que se compreendem e se refletisse nos outros!   Se eu fosse canção de paz e poesia, eu era verso, amizade e estrada, fosse noite ou fosse dia...   Poetizava a vida, o mar, o ar e a liberdade... Pudesse eu com um só verso acabar com todas as guerras!   Então, valeria a pena ser poeta!   FILOMENA FADIGAS   Maria Filomena de Sousa Fadigas (1954-?), natural de Alcobaça com formação na área da Educação, em Artes Plásticas, licenciada em Animação Sócio Cultural e com formação em Psicologia e Orientação Profissional. Autora de dois livros poéticos e participante como co-autora em mais de duas dezenas de An

Encerramento das comemorações dos 400 anos de Francisco Rodrigues Lobo

 Com um cartaz resumo de ações realizadas ao longo do ano pela Biblioteca Amélia Pais , se encerram as comemorações dos 400 anos de Rodrigues Lobo

Poemas & Poetas, "A vazia sandália de S Francisco" de Alexandre O'Neill

  A vazia sandália de S Francisco   A gratidão da macieira e a amnésia do gato nunca pautaram o curso dos meus dias. Fiquem onde estão! foi a minha ordem para a macieira e para o gato, anda bem exteriores ao meu fraco por eles. Salvei-os (e salvei-me!) de uma fábula cuja moral necessariamente devia ser eu, o parlante amigo de macieiras e conhecidos de gatos. Dá um certo desconforto malbaratar assim amigos em dois reinos da natureza. Mas também dá liberdade. Há uma gente que desponta do outro lado do vale. Está a correr para cá. São os meus semelhantes. Com eles vou desentender-me(mais que certo!), mas a ideia que deles faço é ainda um laço. Repousem em paz as macieiras e os gatos.   Alexandre O'Neill   Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões foi um importante poeta do movimento surrealista português. Era descendente de irlandeses. Autodidata, O’Neill foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa. Precursor do surrealismo

Poemas & Poetas, "Um fado…" de Victor Amorim Guerra

  Um fado…   Tentei cantar um fado E, ainda ontem, meu amor, tentamos fazer um mundo grande, enorme… Tanto faz o que os outros querem, mas como é enorme o nosso amor, ele que seja do nosso tamanho, do tamanho do nosso sonho, do nosso mundo e, depois, naquele dia inesperado, maravilhoso de sonhos, sabemos que estamos perdidos, perdidos dentro de nós, perdidos dentro do sonho que criámos, criámos e voltamos a criar, perdidos no nosso amor. Estamos perdidos no nosso sonho porque o mundo não nos acompanha. Ninguém foge ao amor profundo. Ninguém sabe o que fazer com tanto amor.   Victor Amorim Guerra Victor Amorim Guerra, autor do livro “Contos do Céu e da Terra”, obra vencedora da edição 2012 do Prémio Sonangol de Literatura, Victor Amorim Guerra transmite nos seus escritos, de pendor humanista, uma mensagem de paz, solidariedade e amor ao próximo. Natural de Benguela, Victor Amorim Guerra leva-nos, a uma surpreendente viagem, às vezes

Poemas E Poetas "Lamento" de Natércia Inácio

  Lamento   Os livros que podia ter lido e não li Quem podia ter amado e não amei Amigos que por orgulho evitei Caminhos que por temer não percorri   Os filhos que por não confiar, não tive Os Sonhos que troquei pela realidade Quem não ama apenas sobrevive Tempo perdido por orgulho, vaidade   Fui novo e não parei, corri, julguei Fiquei velho e não amadureci Sabia tudo, esqueci! Já não sei   O corpo descansa e a Alma cansa Tempo do que fui e podia ter sido Lamento agora o tempo perdido   Natércia Inácio Natércia Inácio, nasce na Nazaré a 19 de março de 1971, é Técnica Superior de Educação Social (TSES). Desde os 11 anos que tem a paixão pelo teatro, tem vários trabalhos de encenação e tem pisado vários palcos dando vida a várias e curiosas personagens. A Poesia e as Estórias marcam a sua vertente literária, tendo vários poemas em algumas Antologias quer em Portugal quer no Brasil. A Contadora de Estórias foi uma publicação de 2014 em negro e