Dia 5
Fermosos olhos, quem ver-vos pretende
A vista dera em preço se vos vira,
Que ainda que perder-vos a sentira,
A perda de não ver-vos não se entende.
A graça dessa luz não na comprende
Quem qual ao sol a vós seus olhos vira,
Que o cego Amor que cego deles tira,
Com vossos próprios raios a defende.
Não pode a vista humana conhecer
Qual seja a vossa cor, que a luz forçosa
Não consente mostrar tanta beleza.
Se eu, que em vendo-a ceguei, pude ainda ver,
Uma cor vi, porém cor tão fermosa
Que me não pareceu da natureza.
'A Primavera'
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