Soneto de Inês
Dos olhos corre a água do Mondego
os cabelos parecem os choupais
Inês! Inês! Rainha sem sossego
dum rei que por amor não pode mais.
Amor imenso que também é cego
amor que torna os homens imortais.
Inês! Inês! Distância a que não chego
morta tão cedo por viver demais.
Os teus gestos são verdes os teus braços
são gaivotas poisadas no regaço
dum mar azul-turquesa intemporal.
As andorinhas seguem os teus passos
e tu morrendo com os olhos baços
Inês! Inês! Inês de Portugal.
José Carlos Ary dos Santos, in Poemas de Ary dos
Santos
Nota Biográfica
José
Carlos Pereira Ary dos Santos nasceu em Lisboa a 7 de dezembro de 1937 no seio
de uma família da alta burguesia. Nasceu depois, de novo, para a poesia, aos 14
anos, quando a família lhe publica, contra a sua vontade, alguns poemas no
livro "Asas".
Os
estudos nunca foram lineares. Foi expulso do Colégio Infante Sagres, passou
pelo colégio interno Instituto Nuno Álvares, em Santo Tirso, e não chegou a
concluir nenhum curso superior, apesar de ter frequentado as faculdades de
Direito e de Letras de Lisboa.
Ary
dos Santos foi, também, um ativo militante político. Correu o país de lés a
lés, às vezes sozinho perante plateias emocionadas com o seu singular modo de
dizer poesia, às vezes em sessões organizadas por estruturas populares nas
quais participavam também os cantores de intervenção que, como ele, através da
música e das palavras, tentavam interpretar o sentir de todo um povo.
A
sua poesia estava ancorada numa lírica sensível, mas poderosa. Concorre, sob
pseudónimo, ao Festival da Canção de 1969 com o poema "Desfolhada". A
música é de Nuno Nazareth Fernandes e a interpretação ficou a cargo de Simone
de Oliveira.
Viveu
praticamente toda a sua vida no nº23 da Rua da Saudade, onde existe uma lápide
evocativa do poeta. Morreu a 18 de janeiro de 1984, vítima de uma cirrose.
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