Velhinha
Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa!...”
Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até o fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente...
Já murmuro orações... falo sozinha...
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos...
Florbela Espanca
Florbela
Espanca (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de dezembro de
1930), batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela
d'Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas
36 anos, foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos,
que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de
erotização, feminilidade e panteísmo. Há uma biblioteca com o seu nome em
Matosinhos.
Autora
polifacetada: escreveu poesia, contos, um diário e epístolas; traduziu vários
romances e colaborou ao longo da sua vida em revistas e jornais de diversa
índole, Florbela Espanca antes de tudo é poetisa. É à sua poesia, quase sempre
em forma de soneto, que ela deve a fama e o reconhecimento. A temática abordada
é principalmente amorosa. O que preocupa mais a autora é o amor e os
ingredientes que romanticamente lhe são inerentes: solidão, tristeza, saudade,
sedução, desejo e morte.
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