RENÚNCIA
Fui nova, mas fui triste;
só eu sei
como passou por mim a
mocidade!
Cantar era o dever da
minha idade…
Devia ter cantado, e não
cantei!
Fui bela. Fui amada. E
desprezei…
Não quiz beber o filtro
da ansiedade.
Amar era o destino, a
claridade…
Devia ter amado, e não
amei!
Ai de mim! Nem saudades,
nem desejos;
nem cinzas mortas, nem
calor de beijos…
— Eu nada soube, nada
quis prender!
E o que me resta? Uma
amargura infinda:
ver que é, para morrer,
tão cedo ainda,
e que é tão tarde já para
viver!
Virgínia Victorino
Virgínia
Villa-Nova de Sousa Vitorino nasceu em 13 de agosto de
1895, em Alcobaça, filha do correeiro Joaquim de Sousa Vitorino e de sua
mulher, Guilhermina Vila-Nova.
Cursou Filologia Românica, na Faculdade de Letras de Lisboa, e
frequentou a Escola de Música do Conservatório
Nacional, onde estudou piano, canto,
harmonia e aprendeu a língua italiana. Ainda no Conservatório,
durante cerca de quatro décadas, lecionou as cadeiras de Português, Francês e
Italiano.
Professora
do ensino liceal,
trabalhou também na Emissora
Nacional onde dirigiu diversas peças de teatro
radiofónico. Na rádio usou o pseudónimo Maria João do Vale.
Foi
autora de três livros de poesia e de seis peças de teatro, todas representadas pela
prestigiada companhia de teatro de Amélia Rey Colaço e Robles
Monteiro, sediada no Teatro Nacional D. Maria II. A sua
obra Namorados (1918) foi editada 14 vezes. Houve «doze
edições em Portugal e duas no Brasil».
Com
vasta colaboração em jornais e revistas portuguesas e brasileiras, esteve
no Brasil a
convite de Getúlio Vargas, por volta de 1937.
Em
1938, a peça Camaradas valeu-lhe o Prémio Gil Vicente do Secretariado Nacional de Informação.
Retratada,
entre outros, por Eduardo Malta e Teixeira
Lopes, e mais recentemente por José Paulo Ferro e Manuela
Pinheiro; Almada Negreiros colaborou com ela na
ilustração de capas de alguns dos seus livros.
Virgínia
Vitorino morreu em 21 de dezembro de 1967, em Lisboa, na freguesia do Sacramento, no número 108 da Rua Garrett,
aos 72 anos de idade, encontrando-se sepultada no Cemitério do Alto de São João.
O
seu nome consta da toponímia de Lisboa e
Alcobaça.
É
considerada «uma das Mulheres mais influentes nas Letras na primeira
metade do século vinte em Portugal».
Na Antologia
da Poesia Feminina Portuguesa (1972), António Salvado disse que
Virgínia Vitorino escreveu «alguns dos mais interessantes sonetos da poesia
portuguesa de amor».
Condecorações
Em
1929 foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo, a 5 de outubro, e
em 1930 com o grau de Dama da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada,
a 30 de julho.
Do Governo Espanhol recebeu a Cruz de D.
Afonso XII, em 1930.
Obras
- Namorados (1920)
- Apaixonadamente (1923)
- Renúncia (1926)
- Degredados (1931)
peça em 3 atos
- A Volta (1932)
peça em 3 atos
- Fascinação (1933)
peça em 3 atos
- Manuela (1934)
peça em 3 atos e 4 quadros
- Camaradas (1938)
peça em 3 atos
- Vendaval (1942)
peça em 3 atos
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