Um tal Fernando Assis Pacheco
Vivo com ele há anos suficientes
para poder dizer que o reconheceria
num dia de Novembro no meio da bruma
é como uma pessoa de família
adorava os pais, mas tinha medo
quando zangados se punham aos gritos
e se chamavam nomes odiosos
não invento nada vi-o crescer comigo
chorava então desabaladamente
e eu com ele sentindo-nos perdidos
o cobertor puxado sobre a cabeça
seria trágico se não fosse ridículo
mesmo depois a noite que urinasse
no pijama era um protesto civil
encharcou assim grande parte das
Beiras
não lhe perguntem se foi feliz
Fernando Assis
Pacheco (1937-1995) nasceu em Coimbra, cidade onde se licenciou em Filologia
Germânica e onde viveu até iniciar o serviço militar, em 1961. Na juventude,
foi actor de teatro e redator da revista Vértice. Cumpriu parte do serviço
militar em Portugal, tendo seguido como expedicionário para Angola, onde esteve
até 1965. Nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo: deixou a
sua marca de grande repórter no Diário de Lisboa, na República, no Jornal de
Letras, Artes e Ideias, no Musicalíssimo e no Se7e, onde foi diretor-adjunto.
Foi também redator e chefe de redação de O Jornal, semanário onde durante dez
anos exerceu crítica literária, e colaborador da RTP. Cuidar dos Vivos (1963)
foi o seu livro de estreia. Entre os demais livros que publicou, encontram-se
Variações em Sousa, Walt e Trabalhos e Paixões de Benito Prada. A Musa
Irregular? Edição aumentada reúne toda a sua produção poética e inclui vários
inéditos. Assis Pacheco traduziu para português Pablo Neruda e Gabriel García
Márquez. Morreu a 30 de novembro de 1995, à porta de uma livraria.
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