O MAR DOS MEUS OLHOS
Há mulheres que trazem o mar nos
olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos
sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos
olhos
pela grandeza da imensidão da
alma
pelo infinito modo como abarcam
as coisas e os homens…
Há mulheres que são maré em
noites de tardes…
e calma
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu a 6 de
novembro de 1919 no Porto. Tem origem dinamarquesa pelo lado paterno. O seu
avô, Jan Andresen, desembarcou um dia no Porto e nunca mais abandonou esta região.
Iniciou os estudos no Colégio Sagrado Coração de
Jesus, no número 1354 da Avenida da Boavista, onde entrou no primeiro ano de
funcionamento da escola.
Criada na velha aristocracia portuguesa, educada nos
valores tradicionais da moral católica, foi dirigente de movimentos
universitários católicos quando frequentava Filologia Clássica na Universidade
de Lisboa (1936-1939) que nunca chegou a concluir. Colaborou na revista
"Cadernos de Poesia", onde fez amizades com autores influentes e reconhecidos:
Ruy Cinatti e Jorge de Sena. Veio a tornar-se uma das figuras mais
representativas de uma atitude política liberal, apoiando o movimento
monárquico e denunciando o regime salazarista e os seus seguidores. Ficou
célebre como canção de intervenção dos Católicos Progressistas a sua
"Cantata da Paz", também conhecida e chamada pelo seu refrão:
"Vemos, Ouvimos e Lemos. Não podemos ignorar!"
Casou-se, em 1947, tendo sido mãe de cinco filhos. Os
filhos motivaram-na a escrever contos infantis.
Em 1964 recebeu o Grande Prémio de Poesia pela
Sociedade Portuguesa de Escritores pelo seu livro sexto. Já depois da Revolução
de 25 de Abril, foi eleita para a Assembleia Constituinte, em 1975, pelo
círculo do Porto.
Distinguiu-se também como contista (Contos Exemplares)
e autora de livros infantis (A Menina do Mar, O Cavaleiro da Dinamarca, A
Floresta, O Rapaz de Bronze, A Fada Oriana, etc.). Foi também tradutora de
Dante Alighieri e de Shakespeare e membro da Academia das Ciências de Lisboa.
Para além do Prémio Camões, foi agraciada com um Doutoramento Honoris Causa em
1998 pela Universidade de Aveiro e também foi distinguida com o Prémio Rainha
Sofia, em 2003.
Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu, aos 84 anos,
no dia 2 de Julho de 2004, em Lisboa. O seu corpo foi sepultado no Cemitério de
Carnide. Em 20 de fevereiro de 2014, a Assembleia da República decidiu
homenagear por unanimidade a poetisa com honras de Panteão. A cerimónia de
trasladação teve lugar a 2 de julho de 2014.
Desde 2005, no Oceanário de Lisboa, os seus poemas com
ligação forte ao Mar foram colocados para leitura permanente nas zonas de
descanso da exposição, permitindo aos visitantes absorverem a força da sua
escrita enquanto estão imersos numa visão de fundo do mar.
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