Rosas secas
Rosas secas numa jarra, atravessadas
Pelo feixe de luz amarelo do candeeiro de rua.
Mas a rua será modernizada.
Iluminada por uma lâmpada branca e estridente.
Tal como tudo no mundo, que se torna incolor e sem graça.
Tal como todos no mundo, que se tornam pálidos e secos.
Tal como o corpo nu e frio que se estende na cama
E que terá roubado umas rosas, em tempos,
Deixando-as pousar eternamente.
Porque as flores são mais bonitas quando estão mortas
E as raparigas são mais bonitas quando desejam ser flores numa jarra,
Arranjadas, ornamentadas.
Elogiadas e ignoradas.
Direitas, imóveis...
À espera de serem trocadas por umas mais frescas, em breve.
Quando a realidade bate à porta
E decidem levantar-se da cama,
As raparigas olham para o espelho,
Intrigadas com a forma que o seu cabelo tomou
E com o brilho com que os seus olhos se distinguem do mar de petróleo,
E desiludem-se
Porque não são como as rosas,
Que ficam mais bonitas quando estão murchas.
Mas o espelho não se importa.
O espelho não sabe o que vê.
Sabe apenas que já viu tudo
E nunca se partiu nem gritou,
Porque isso é humano.
Porque isso é o trabalho das raparigas,
Que são malucas, insanas,
Ao ponto de se magoarem por palavras que um objeto nunca conseguiria dizer.
Fitam o chão, fitam o teto.
Rodopiam e flutuam
Como flores ao vento,
As raparigas dançam
Ao ritmo da música imersiva.
O som único, transcendente,
Que as poda e lhes arranca as raízes,
Que lhes bate e lhes arranca as lágrimas disfarçadas
De abanões e passos de dança,
Que seriam impossíveis
Se as raparigas fossem flores no campo
Ou numa jarra em cima da mesa.
Juliette Maria Lima (pseudónimo)
concurso de poesia/25
Comentários
Enviar um comentário